20 de abr. de 2014

horizontes

Em doses todos choram. E resistem em assumir o sentimento.
Em sortes todos arriscam. E admitem não vencer sempre.
Em partes todos amam. E estabelecem vínculos.
Em mares todos sonham. E atravessam horizontes.

razão de amar

qual a razão de amar
se me pego sofrendo
de mal, bendizendo
de costas pro mar
vou acabar desistindo
chorando, sorrindo
vou de par em par
de nada vale a verdade
mentira, saudade
se não se encontrar

tempero

tem dias que o sonho
liberta o homem do meio
às vezes a verdade
descomplica o meu desespero
nem sempre o amor
desapega o meu desapego
ou mesmo o vício
é o limite do meu exagero
nem o teu corpo
tem o gosto do meu tempero

realização

ah,
não queira me deixar
a contar minhas moedas outra vez
desistir do que ainda não se fez
me esconder na solidão

não,
esse romance não é só uma canção
às vezes bate na cabeça um coração
a decifrar o amor

mas,
toda miséria vai um dia se acabar
toda ternura do olhar vai se encontrar
o sonho,
realização

vossa verdade

verso sem medida
ponto sem partida
riso sem piada

corte sem ferida
beco sem saída
tudo sem o nada

desconstruí meu discurso
que o muro, já era
tá no chão
a cultura é um buraco
lá de dentro
eu não caibo
na loucura
de viver

esse som que vem de leve
novamente me assusta
uma luz se acende:
é a ideia nua
num corpo vestido de pano
uma cicatriz
que fica escondida na alma

sol que guia o meu passo
lua que brilha em meu sonho
façam de mim vossa verdade

leão

tem um leão pra matar
tua saudade
um jacaré pra comer
tua certeza
tá osso de devorar
tua verdade
pequeno
pra engrandecer
tua fraqueza

os pés se esquecem de pisar o chão
os rios são roubados na torrente
mãos não se estendem mais para o irmão
de que se vale a fé na sua mente

não vou negar a minha condição
pra enganar o meu pensamento
tesouro é não trair o coração
mistério é entender o sofrimento

nessa lua

vamos brincar
nessa lua
escondida
no breu...

ao invés de mim
sejamos você


é uma lua insana que me aflige a noite inteira
ímpar feito o sol que se coloca e vai dormir em outras praias
nem a solidão teria tempo que coubesse esse lamento
são cruéis demais que seus destinos são as águas desse mar
como desse pão que alimenta meu sorriso e meu choro
de que vale então amar primeiro e depois se arrepender?

botão

quisera um botão
em flor se abrisse
embora a mão
fechada ainda fosse
mais tenho a ouvir
o que não disse
urgência de amar
e ser amado
é chão, é céu azul
e o mar no meio
é belo, o toque,
o ar, a luz, o cheiro
é pele, é suor,
é pensamento
um gole de paixão
em minha taça
não tem o amor
a ver com exigência
nem o conforto
é só pertencimento
o sol pintando a cor
de minha raça
a noite inebriando
a solidão
deixar de ser pro outro
o que somente
em mim se encontraria
a liberdade

alma

alma,
perpendicular ao corpo
imagem de ser
embora exista
me tenha enquanto
escorro pelos teus dedos
sou teu
sou tua
imagem de ser
embora exista

rainhas

rainhas
se curvam
aos seus caprichos
pois nem todo trono
só de ferro se enfeita
tem mais ninhos e pássaros
que nos mais altos muros se escondem

agora

a luz que vá brilhar em outros campos
o dia nascerá em amplidão
não vou mais precisar de algum encanto
que alimente mais a minha dor
repleto é o amor com suas armas
que deixa meu sistema desarmado
a vida é um sonho
que pouco ouso lembrar
quando me vem à mente
me resta pra contar
o que me cala
será que o perdão, eu o mereço
se minha indecisão tem suas causas
a ira e a luxúria tem seu preço
a mágoa e a esperança de mãos dadas
pra sempre é o mesmo sol
se vai em seu ocaso
iluminar uma outra natureza
pra ser melhor, voltar a ser criança
e entender melhor a sua trama
pra onde levaremos a tristeza
felicidade levamos pra cama
a norma se confunde com o vício
o derradeiro tem que ir embora
pra tudo a mente cria um artifício
que a morte do passado é o agora

viés

sou o teu viés
tua incoerência
repetida
simplesmente
em canção
o que vale
pra cabeça
o coração
quando para
um ou o outro
vou morrer?

sonhos

vamos passear pelo tempo
desenformar o gelo
desfazer os remendos
reabrir as feridas
curar de vez essa doença
e acalmar nossos demônios
endireitar nossa cabeça
e libertar os nossos sonhos

sexo

sexo
é encontro de peles
explosão de espíritos
energia que se rompe
no ocaso do gozo
expressão de si mesmo
invasão um do outro


padeiro

madrugada é do pão
fermentando o amanhecer
vou rever o pensamento
pra poder te entender
não me basta a razão
que me acusa e me absolve
o tempo todo
o dia inteiro
e de noite
sonhar acordado
na madrugada de um padeiro


lá se foi

o meu sol
será teu também
noutro caminho 
lá se foi
o coração
dor na bexiga
preso dentro da barriga
era a poesia a ser parida
a vontade 
lá se foi
cumprir seu voto
o presente é agora
o futuro não demora
o desejo
lá se foi
que o horizonte 
lhe cabia na cabeça
por favor, por deus, esqueça
o passado
lá se foi


protesto

  num tempo onde as tragédias são celebradas alguns tantos te querem triste, derrotado levante, sorria para o espelho, para a vida o teu sor...